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O ChatGPT e a expressão “na capa da gaita”: a inteligência artificial aprende ou não?

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CWI Autoria do conteúdo


Imagem em preto e branco. Em cima de uma mesa, as letras que formam "OpenAI" estão sendo dispostas por duas mãos de madeira. Três papéis exibem pontos de interrogação.

Enquanto usava o ChatGPT, você já se perguntou se a ferramenta de inteligência artificial guardaria as informações das suas conversas para usar no futuro? Ou, em outras palavras, se é capaz de aprender? Neste artigo, vamos falar sobre a capacidade de aprendizado do chatbot mais popular dos últimos tempos com um teste simples.

E, se você não sabe o que significa “na capa da gaita”, até o final da leitura conhecerá uma nova expressão!

O artigo é baseado em uma palestra do cwiser Denis Andrei de Araujo, doutor em Computação Aplicada, durante o I Seminário de Inteligência Artificial da CWI. Sua tese de doutorado se refere ao uso de Processamento de Linguagem Natural (PLN) na geração de Perguntas & Respostas.


ChatGPT: o que é a aplicação e o que é o modelo

Para entender se o ChatGPT é capaz de aprender com as mensagens que enviamos, primeiro é necessário compreender o que é o chatbot e o que é a tecnologia por trás dele, que processa e analisa os dados.

O ChatGPT é um sistema que possui uma interface com a qual podemos interagir. Essa interação é conversacional, ou seja, é possível fazer perguntas e receber respostas, por exemplo. A OpenAI, criadora do sistema, também cita a capacidade de contestar premissas incorretas, rejeitar solicitações inapropriadas e admitir seus erros — sim, o ChatGPT erra, como vamos mostrar logo a seguir!

Na data de publicação desse artigo, essa interação conversacional é possível devido ao modelo chamado GPT-3.5 (na versão gratuita). Em outras palavras, a interface com a qual interagimos aciona o modelo, a inteligência artificial, para responder o usuário. São duas camadas de software diferentes.

Área superior da tela de conversação do ChatGPT. À esquerda, temos um menu com o botão para iniciar uma nova conversa (new chat) e um histórico de conversa do dia anterior. A área principal da imagem mostra a identificação da versão: Default (GPT-3.5). Abaixo, aparece a pergunta "O que significa a expressão 'na capa da gaita'?".

Então o modelo consegue aprender a partir das interações que fazemos com o sistema e usar as informações depois? Não é bem assim. Esse é um mito, o modelo não aprende a partir das interações com o usuário.

O que acontece é que as respostas que recebemos do chatbot são influenciadas pelo contexto, ou seja, pelas informações enviadas. Para que o modelo de fato aprenda e passe a compartilhar informações novas, é necessário que passe por um processo chamado fine-tuning. E essa é uma possibilidade que a versão gratuita não oferece.


Confira na prática: o ChatGPT não aprende com as informações que você envia

O teste que estamos propondo para ilustrar esta situação envolve uma expressão bastante comum no Rio Grande do Sul, onde fica uma das sedes da CWI. É “na capa da gaita”. (Por lá, aliás, “gaita” é uma das formas pela qual as pessoas se referem ao instrumento musical acordeão.)

Por ser um regionalismo, não é de se surpreender que o ChatGPT não consiga informar o significado dessa expressão. A inteligência artificial foi treinada por meio de uma enorme base de dados que inclui artigos, livros e páginas da web. Se uma expressão não aparece com uma frequência significativa nessa base de dados, não será considerada relevante e, portanto, não será compreendida nas conversas com os usuários.

Em nossos testes, já recebemos três respostas diferentes do ChatGPT para a pergunta “O que significa a expressão ‘na capa da gaita’?”. Confira:

1. “Na capa da gaita” é uma expressão popular brasileira que significa fazer algo com força, intensidade, com todo o empenho ou até mesmo de forma exagerada. Ela é frequentemente usada para descrever a maneira como alguém está executando uma tarefa ou se envolvendo em uma atividade, indicando que a pessoa está dando o seu máximo. A expressão provavelmente tem origem na ideia de que, ao tocar uma gaita de boca (instrumento musical também conhecido como harmônica), o músico precisa soprar o ar com força para obter um som mais alto e expressivo. Portanto, “na capa da gaita” seria equivalente a “colocando toda a força no sopro da gaita”.

2. A expressão “na capa da gaita” é uma gíria ou uma expressão idiomática que é usada principalmente no Brasil. Ela é utilizada para se referir a algo que é extremamente caro, muito caro, ou excessivamente caro em relação ao seu valor real. Em outras palavras, quando alguém diz que algo está “na capa da gaita”, significa que aquilo é muito caro, talvez até mais caro do que deveria ser. A origem exata da expressão não é clara, mas a palavra “gaita” neste contexto provavelmente se refere a uma gaita de boca (harmônica) que, muitas vezes, tem uma capa protetora. A ideia é que algo é tão caro que custaria o mesmo preço ou mais caro do que uma gaita de boca com uma capa, o que seria desproporcional.

3. A expressão “na capa da gaita” é uma gíria ou expressão idiomática que é comumente usada no Brasil para se referir a algo que é feito de forma rápida, improvisada ou sem muito planejamento. Geralmente, é usado quando alguém realiza uma ação de maneira desorganizada, sem muita atenção aos detalhes ou sem seguir um plano específico. Por exemplo, se alguém está realizando uma tarefa apressadamente e sem muito cuidado, outra pessoa pode dizer: “Você está fazendo isso na capa da gaita”, sugerindo que a ação está sendo feita de maneira desordenada ou apressada. Essa expressão tem origem na ideia de que tocar a gaita de boca (harmônica) de maneira improvisada e despretensiosa pode gerar um som caótico ou desorganizado. Portanto, “na capa da gaita” implica uma ação feita de forma desordenada ou sem muita técnica.

Nenhuma dessas respostas — que podem inclusive parecer bem embasadas à primeira vista — corresponde ao significado atribuído pelas pessoas que usam essa expressão no Rio Grande do Sul. Com esse exemplo simples, reforçamos que o chatbot online de inteligência artificial pode ser, sim, uma ferramenta bastante útil, mas é essencial que o usuário seja capaz de criticar os retornos recebidos.

Dando sequência ao nosso teste, informamos ao ChatGPT qual o conceito que entendemos como correto:

Não, você está errado. A expressão “na capa da gaita” significa que a pessoa está extremamente cansada, exausta, ou que algo está muito desgastado.

O chatbot retornou concordando conosco e lamentando o engano. Na sua resposta, ainda expandiu o conceito que enviamos:

Peço desculpas pelo erro na minha resposta anterior. Você está absolutamente correto. A expressão “na capa da gaita” é de fato usada para indicar cansaço extremo, exaustão ou desgaste. Agradeço por corrigir a informação.

Nós continuamos o diálogo, ainda no mesmo chat:

Para me certificar de que tu entendeste, por favor responda qual é o significado da expressão “na capa da gaita”.

No retorno recebido, o ChatGPT confirma o significado que fornecemos:

Peço desculpas pelo erro anterior. A expressão correta “na capa da gaita” significa estar extremamente cansado, exausto ou desgastado. Obrigado por corrigir e esclarecer o significado correto.

Então pode parecer que ele aprendeu o significado da expressão, certo? Mas não é o caso, o chatbot está apenas consultando o contexto daquela conversa. Basta abrir uma nova seção (clicando no botão “New chat”) e fazer a mesma pergunta para notar que o modelo continua demonstrando que não tem conhecimento sobre o tema, inventando um significado.


Quando aplicada de forma estratégica para solucionar desafios, tendo claros o seu potencial e as suas limitações, ferramentas como o ChatGPT e a área de Inteligência Artificial como um todo tornam-se muito úteis. Saiba como o uso de IA na CWI acelera o desenvolvimento e entrega valor a clientes!

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