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Gestão de Projeto X Gestão de Produto: as diferenças e complementaridades dessas duas abordagens

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Manoela Nascimento Autoria do conteúdo


No contexto de empresas que oferecem soluções digitais ao mercado, gerir projetos e gerir produtos são funções fundamentais para o desenvolvimento e implementação de tais ofertas. Ambas atividades possuem objetivos semelhantes como entregas bem-sucedidas e resultados positivos, bem como conhecimentos comuns como organização, processos e visibilidade do que está sendo realizado.

Apesar de suas afinidades, existem características que diferem a maneira como as soluções são criadas, conduzidas e avaliadas. A partir de perspectivas, metodologias e focos distintos, as responsabilidades de um Gerente de Projeto e de um Gerente de Produto no dia a dia tendem a não ser as mesmas. É nesse contexto que, atualmente, muito se discute sobre essas duas formas de gerenciamento em um time de desenvolvimento de software. Há uma forte tendência dentro deste debate em chegar a respostas de qual das duas abordagens é a mais correta, qual irá gerar mais resultado e qual irá garantir as boas entregas esperadas pelas companhias.

– Será que é preciso chegarmos a tais conclusões?

Os impactos dos comportamentos sociais e dos avanços tecnológicos no contexto das organizações têm se tornado cada vez mais fortes. Não há companhia que não esteja buscando formas de se manter atualizada, sustentável e competitiva em um mercado bastante acelerado, dinâmico e incerto. Tal movimento tem forçado as empresas a avaliarem suas estruturas, seus processos internos, seus posicionamentos e, principalmente, suas culturas. Não é à toa que já estamos há um bom tempo vivenciando a Transformação Digital na nossa rotina de trabalho.

Na esteira desse movimento, o modo como as estratégias são ordenadas, implementadas e analisadas influenciam diretamente na abordagem utilizada na criação e desenvolvimento de soluções digitais. Isto é, Gestão de Projeto e Gestão de Produto são temas de extrema relevância e uma das formas que reflete na prática a cultura e o momento das organizações. Sendo assim, buscar compreender os principais pontos de diferença entre essas duas perspectivas, é fundamental para todos os profissionais que atuam no mercado digital.


Gestão de Projeto X Gestão de Produto

Gestão de Projeto é a abordagem mais tradicional e estabelecida no mercado. Muitas empresas adotam essa perspectiva, dentre elas desenvolvedoras de software e demais setores que ofertam produtos, serviços e implementações. Através de objetivos, prazos e orçamentos bem definidos, a cultura de projeto se estabelece devido ao favorecimento de um controle mais apurado de custos, cronogramas e itens trabalhados, com uma previsão de conclusão e gerenciamento mais certeira.

Basicamente, a função de gerir um projeto envolve características como: 

  • Tempo e Orçamento: como já comentado, o foco está em uma execução eficiente. Assim, os projetos nascem com cronogramas e orçamentos estabelecidos e o sucesso de um Gerente de Projeto é medido pela capacidade de cumprir essas limitações.
  • Escopo Definido: os projetos são iniciados com escopos claramente definidos e objetivos específicos a serem alcançados. O Gerente de Projeto busca garantir que todos os itens sejam concluídos conforme o escopo e o sucesso é analisado pela conclusão dentro dos parâmetros estabelecidos.
  • Equipe Multifuncional e Temporária: a execução de um projeto, comumente, envolve a coordenação de um time composto por pessoas com áreas de conhecimento complementares, tendo metas específicas a serem atingidas. Geralmente, a equipe é formada de modo temporário e ao atingir o objetivo do projeto, os membros podem ser alocados para novas iniciativas da empresa.
  • Controle de Riscos: atuar com projetos exige a capacidade de identificar potenciais problemas que possam surgir ao longo da execução, bem como a habilidade de lidar com tais questões de forma eficaz. Identificar, dar visibilidade, controlar e resolver os riscos que possam impactar o que foi planejado como resultado do projeto, é crucial nesta abordagem. 
  • Medição de Sucesso: em Gestão de Projeto, um resultado é considerado bem sucedido quando o desafio é concluído dentro do prazo desejado e do orçamento estipulado para sua realização. Leva-se em consideração, também, a qualidade do trabalho e da solução implementada.

Em paralelo, à medida que o mercado tem apresentado rápidas mudanças, através de um olhar mais centrado nas necessidades dos clientes e uma busca constante por diferenciação, a Cultura de Produto tem ganhado espaço relevante principalmente quando falamos em soluções digitais. O fomento dessa abordagem se estabelece sob uma perspectiva que busca entender de modo mais aprofundado e contínuo o contexto social, permitindo a criação de produtos, serviços ou sistemas, mais alinhados com as necessidades dos usuários, evolutivos e com forte potencial de inovação.

Sendo assim, gerir um produto contempla tais características:

  • Visão de Longo Prazo: como dito, esta abordagem busca ter um foco maior em relação às necessidades do mercado, tendo como um dos principais objetivos a criação de soluções que permaneçam úteis e relevantes ao longo do tempo. Sendo assim, todo o ciclo de vida do produto torna-se crucial, desde sua concepção até sua execução e evolução contínua.
  • Estratégia definida: diferente da abordagem de projeto, Gestão de Produto contempla a definição de uma estratégia de produto clara, dos seus públicos-alvo e da sua diferenciação no mercado. Esses três aspectos sempre estão vinculados aos objetivos e visão de Negócio das organizações. A partir de tais direcionadores é que as metas a serem atingidas e os itens a serem trabalhados são estabelecidos.
  • Equipe Multidisciplinar: em Gestão de Produto as equipes também são contempladas por profissionais de áreas de conhecimento complementares, que trabalham juntos para o alcance dos objetivos do produto. Por ser uma abordagem de visão a longo prazo, geralmente, os times seguem atuando em melhorias contínuas e evoluções do mesmo produto.  
  • Foco no Cliente: gerir produtos exige que a empresa e, principalmente, o Gerente de Produto, coloque os usuários no centro dos processos e tomadas de decisão. A partir do entendimento das necessidades e desejos dos clientes, torna-se mais assertiva a garantia de que a solução ofertada irá atender as expectativas do mercado.
  • Tomada de Decisão: nesta abordagem o time responsável pelo produto ganha autonomia para tomar decisões em relação ao que será desenvolvido no momento, bem como será evoluída a solução. Tais decisões devem beneficiar o cliente, o sucesso do produto e o resultado da organização. Para isso, não há necessidade de passar por muitos níveis hierárquicos de aprovação.
  • Priorização e Roadmaps: o Gerente de Produto é o responsável por conduzir a priorização dos itens que serão trabalhados pela equipe, baseando-se em critérios que entreguem valor ao cliente e ao negócio. Além disso, é crucial que tenha a habilidade de organizar e dar visibilidade do que está sendo realizado, através de roadmaps – artefatos que guiam o desenvolvimento do produto ao longo do tempo.
  • Medição de Sucesso: na perspectiva de Gestão de Produto o bom resultado considera o grau de satisfação dos clientes, o índice de retenção e/ou fidelização, o aumento da base de usuários e da receita da empresa; dentre outros indicadores relacionados ao desempenho do produto no mercado.

Abordagens excludentes ou complementares?

Entende-se que enquanto a Gestão de Projeto se concentra em entregas dentro de prazos e orçamentos específicos, a Gestão de Produto ressalta um olhar orientado ao cliente, à diferenciação e ao alcance de resultados no longo prazo. Com isso, vivenciamos um momento de mercado em que as empresas estão repensando seus posicionamentos, buscando transformar seus processos estruturais de modo que faça sentido e seja sustentável. 

Na prática, isso significa que grande parte das organizações desejam evoluir para um modelo que traga bons resultados e favoreça uma adaptação mais ágil ao contexto dinâmico e acelerado do mercado atual. Entretanto, não podemos esquecer que tal transformação não irá acontecer da noite para o dia, ainda mais em empresas tradicionais e bem consolidadas nos seus segmentos. É um movimento que envolve pessoas, processos e rentabilidade.

O ponto de amadurecimento em que o mercado de TI se encontra traz a reflexão se de fato é necessário optar por uma abordagem ou outra. Será que tornam-se perspectivas totalmente excludentes no contexto das empresas? Ou existe espaço para encontrarmos o ponto de equilíbrio e de complementaridade entre tais abordagens?

Gerir projetos e gerir produtos são papéis importantes e a escolha entre as duas abordagens deve sempre depender dos objetivos organizacionais e das necessidades do momento. Isto é, por vezes será necessário partir de um projeto para o nascimento de um produto; bem como, é possível identificar novos projetos a partir das evoluções contínuas dos produtos. Aliás, sendo o primeiro cenário vivenciado pela maioria dos profissionais que atuam com soluções digitais. É nesse contexto que surge a oportunidade das empresas buscarem o equilíbrio entre as duas perspectivas em um momento de transformação de cultura, combinando a execução eficiente de projetos com o foco no desenvolvimento contínuo de produtos para atender o mercado atual. E, a atenção que elas devem ter é saber olhar e medir de modo distinto o que nasce como projeto e o que nasce como produto dentro dos seus contextos.

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