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O longínquo ano de 2020 trouxe uma expansão da área de Design na CWI. Tivemos muitas entrevistas, processos seletivos, aberturas de vagas e times crescendo. Nesse contexto, foi necessário descrever diversas vagas para UX/UI e Product Designers por aqui, além de participar de entrevistas técnicas e dar pareceres técnicos sobre candidatos.

Com isso, em muitas conversas entre nossas áreas de Design, Tecnologia, Gestão e RH, por diversas vezes apareciam dúvidas de quais eram exatamente as competências técnicas esperadas das pessoas candidatas. Sim, as competências técnicas, e não apenas as competências comportamentais, geralmente não-traduzidas como soft skills.

Isso serviu de ponto de partida para entendermos que podíamos ter mais clareza mesmo entre nós, designers, de quais são as competências técnicas que temos como destaque, quais que precisamos melhorar, e quais se adequam mais ao nosso perfil.

Não era uma tarefa fácil entrar em consenso sobre o que buscávamos como um perfil técnico de designers, mas abracei essa necessidade e vou contar aqui como chegamos na ferramenta que temos hoje.


Processo

O processo de desenvolvimento envolveu:

  1. estudo do conceito de competência;
  2. pesquisa de similares;
  3. levantamento de competências e perfis de designer necessários;
  4. workshops para categorização de competências e perfis;
  5. prototipação, testes e refinamento de forma iterativa da primeira versão;
  6. revisão e validação da relação com a Engenharia CWI e com os princípios de Engenharia de Software da CWI;
  7. finalização com integração de ferramenta de questionários + Excel.

Começando da base, era importante delimitar melhor o que se entendia por competência. Uma área já experiente nessa seara é a Educação, de onde foi possível especificar competências a partir do Perrenoud (1998).

Resumindo, competências vão além do simples conhecimento teórico ou técnico, envolvendo a capacidade individual de mobilizar recursos cognitivos (como conhecimento, habilidades e atitudes) para enfrentar uma variedade de situações complexas e realizar tarefas de forma efetiva.

Assim, uma competência pode contemplar não só um simples conhecimento teórico, como teoria das cores, por exemplo, mas também sua aplicação em projetos reais, contemplando habilidades práticas, adaptabilidade, criatividade, pensamento crítico, resolução de problemas, trabalho em equipe e ética profissional. Acredito que essa abordagem traz um diferencial para a identificação de competências relevantes e mais delimitadas, que realmente podem ser acionáveis e fomentar uma autoavaliação construtiva.

Na pesquisa de similares, analisamos uma série de outras ferramentas com propósito similar (NNg, Anderson Gomes, Karine Drumond), buscando sempre um olhar abrangente e que contemplasse o perfil de designers que são os mais frequentes na CWI: designers de produtos digitais, que atuam próximos de Produtos e de Tecnologia. A partir daí concluímos que era importante que a ferramenta pudesse ser autocontida, a ser usada por qualquer designer na empresa, trazendo uma autoavaliação que fomentasse a reflexão individual e que também apresentasse os caminhos e especialidades possíveis dentro de Design.

A partir da análise dos similares e do levantamento de competências e perfis de designers, foi possível ter mais clareza quanto à granularidade de nossas competências. Por exemplo, percebemos que uma competência “Design de interface” pode não ser acionável, pode não delimitar muito um espectro de conhecimentos e pode acabar sendo muito aberta a interpretações. Isso talvez não ocorra com uma competência como “Criar e atualizar guias de estilo (styleguides) ou sistemas de design (design systems)”, que seria uma parte da área “Design de interface”, “Design visual” ou mesmo “Visual”, a depender da granularidade buscada.

Essas análises individuais foram discutidas e consolidadas em workshops, guiando a prototipação de uma primeira versão, que foi testada e refinada de forma iterativa a partir da contribuição de colegas. Além disso, trabalhamos para conectar as competências buscadas com a Engenharia CWI e com nossos princípios de Engenharia de Software, o que traz uma forte conexão das competências avaliadas com a própria visão de Design da CWI.


Fluxo de autoavaliação

A partir do processo apresentado, foi possível estabelecer uma versão final disponibilizada para toda a empresa. Para a versão em uso, tivemos preocupação com a revisão e padronização dos textos, com a simplificação e equilíbrio da quantidade competências em relação às áreas abordadas. O fluxo para a versão final ficou assim:

  1. Designer responde a um formulário de autoavaliação, linkado nas nossas plataformas internas;
  2. Designer recebe seus dados consolidados automaticamente por e-mail em um dashboard, com gráficos e comparações, bem como relações com Engenharia CWI;
  3. Designer pode debater suas competências técnicas com sua liderança técnica e construir um plano de desenvolvimento individual integrado com nossas avaliações periódicas de desempenho.


Aprendizados e próximos passos

As primeiras aplicações da ferramenta ocorreram em 2022 e 2023, oportunizando um primeiro ciclo de feedbacks de colegas designers que, após se autoavaliarem, também avaliavam a própria ferramenta. Era evidente que, mesmo sendo uma versão lançada após prototipação e testes, ainda havia muitas oportunidades de evolução.

Portanto, a partir dos feedbacks já obtidos, algumas evoluções da ferramenta que já estão no radar incluem contemplar tópicos e especialidades dentro de Design, como Conteúdo (UX Writing, Content Design etc.) e Pesquisa (UX Researchers), bem como uma maior clareza de possibilidades de carreira para designers, com melhorias na visualização da autoavaliação, além de um apoio na construção de planos de desenvolvimento individuais.

Particularmente, estou ansioso pela evolução da ferramenta, que deve estar nas nossas ações em 2024, e agradeço a oportunidade de apresentá-la aqui para vocês. Obrigado e até a próxima!


Referências principais

Outras publicações