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Uma síntese de questionamentos e desafios que passei até ser capaz de me ver com uma figura de liderança.

Fonte: Foto por Elena Koycheva no Unsplash

Existem diversos estudos e caracterizações sobre a introversão, suas características, limitações e definições. Não pretendo me aprofundar nesse ponto. Assim, a definição que me atenho é ligada ao âmbito social, onde pessoas introvertidas preferem se concentrar em uma energia advinda internamente do que no coletivo, e que nenhum indivíduo é 100% introvertido ou extrovertido. Outro fato importante que gosto de destacar é que a introversão é diferente da timidez, mas que são constantemente vistas andando lado a lado.


Infância e adolescência

Existem diversas oportunidades nos anos escolares para que possamos desenvolver e aprimorar características de liderança, principalmente em relação a trabalhos em grupos e o papel de líder de turma. Analisando hoje, consigo ver claramente como algumas atividades em grupo eram custosas principalmente quando o grupo envolvido era constituído por pessoas com as quais eu não possuía tanta intimidade. Não vou descartar a timidez dessa equação, sempre fui uma criança tímida, mas essa timidez tendia a acabar no momento em que se constituía um convívio.

“O que isso tem com o papel da liderança?”, você pode estar se questionando. Atualmente eu me defino nessa época como “líder por necessidade“. Basicamente eu queria ter papéis de maior responsabilidade e notoriedade, mas somente se ninguém mais se dispusesse a eles. O pensamento mais recorrente era algo como “Vou esperar mais um pouco e se ninguém mais quiser, eu faço”. Isso também se aplicava aos trabalhos em grupo, onde sempre tendi a assumir uma postura mais passiva até sentir que precisava intervir de forma mais firme.

Foi assim que me tornei líder de turma e uma das oradoras da formatura do ensino médio. Ninguém mais se candidatou e, desse modo, eu fui lá e assumi os papéis. Hoje eu aprecio ambos eventos e consigo ver como contribuíram para entender que eu poderia exercer, mesmo que de forma não tão ostensiva, pequenos papéis de liderança.


Olá, início da vida adulta e trabalho

Esse momento para mim foi onde surgiram os maiores pontos de questionamentos e onde comecei a ver a minha característica de introvertida como negativa.

Lembro até hoje da minha primeira entrevista coletiva e como foi estressante a preparação mental para ter que enfrentar uma sala cheia de pessoas que eu não conhecia e saber que era necessário interagir e mostrar uma disposição social a qual eu normalmente só obtia após uma certa familiaridade, ainda mais se tratando de uma entrevista para o primeiro emprego.

Felizmente deu certo! Mas essa foi uma das pontas do iceberg.

Se me questionassem, nos primeiros três anos de trabalho, o maior ponto que eu precisava aperfeiçoar, a resposta era sempre a mesma: comunicação. Por um bom tempo eu realmente precisei aprender a expor minhas ideias e a lidar com os colegas de uma forma mais clara, contudo, em algum ponto acabou se formando uma falsa ideia de que eu precisava ser um pouco mais falante e “solta” em ambientes com mais pessoas, de que eu precisava ser mais extrovertida.

Um dos grandes motivos era que, desde que entrei na profissão, eu vi o cargo de líder como um alvo a ser conquistado. E para mim todas as figuras de líderes mais reconhecidos eram pessoas extrovertidas, pessoas que brilhavam em grandes grupos e que pareciam estar em seu ambiente mais confortável.

E eu tentei, e de início acabei me frustrando em diversas situações por não estar conseguindo alcançar essa meta equivocada. Tentei levar como pequenos objetivos: falar x pontos em uma reunião, falar mais alto, ter uma postura mais impositiva na presença dos outros, sair mesmo se a minha maior vontade era ficar em casa com um bom livrinho (sim, muito clichê).

Confesso que estes pequenos objetivos me ajudaram bastante a me sentir mais confortável de uma forma mais rápida e até recomendo o sistema para diversas pessoas.

Não sei o quão familiarizado você é com o teste de personalidade, mas eu venho fazendo o mesmo há cerca de quatro anos e já obtive resultados diferentes, porém, uma coisa sempre se manteve: introversão.

O maior problema aqui era que eu queria ser algo que não poderia ser mudado a força.


Mudanças de pensamentos, ou simplesmente a aceitação

Não foi algo de um dia para o outro, mas com o passar do tempo as minhas atitudes começaram a ser notadas organicamente por terceiros como indícios de liderança. Sim, a aceitação não começou por um processo interno de entendimento, veio a partir do reconhecimento de outros e está tudo bem. Às vezes a gente precisa de um empurrão e de até mesmo um TED com alguém falando com todas as letras de que é possível ser um líder e ser introvertido.

TED — O poder dos introvertidos por Susan Cain

Posso afirmar que hoje eu me considero líder 100% do tempo?

A resposta mais verdadeira que posso dar é simplesmente: não. Foi e está sendo um processo de auto-aprendizado e envolve outros fatores como a idade, a confiança e a representatividade feminina. Mas esse é um assunto para outro dia.

Com tudo o que você leu até aqui, o que eu gostaria de destacar de forma geral do meu aprendizado pessoal é de que não existe uma fórmula para a liderança.

Agora, se você é mais um introvertido em busca de um papel de líder, eu te aconselharia a buscar entender seus limites. Precisa de um tempo para “recarregar” após diversas reuniões? Tudo bem, ajude a criar um ambiente onde você e as pessoas ao seu redor se sintam confortáveis e abertas a exporem seus limitações. E, sinceramente, você não precisa ser a pessoa mais falante, precisa somente passar as informações necessárias (quantidade não é qualidade) e o mais importante: necessita ouvir ativamente os seus liderados. Seja uma boa voz própria, mas acima de tudo, seja uma boa voz para os demais.


Não posso descrever o quão difícil foi colocar em palavras uma parte tão pessoal da minha trajetória. Se você chegou até aqui, obrigada!

E por último, me diga: já questionou o seu papel de liderança? Já se perguntou como seria ser um extrovertido, ou vice-versa?

Thanks to Elias Medeiros and Juliano Nardon


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