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O termo sustentabilidade deixou de estar restrito a debates ambientais e passou a ocupar espaço central, também, nas discussões sobre tecnologia e negócios. Quando falamos em produtos digitais, o conceito ganha ainda mais camadas de relevância: não se trata apenas de reduzir emissões de carbono, mas também de cultivar práticas que mantenham o produto, a organização e as pessoas em condições de evoluir de forma saudável. 

Um produto que não é sustentável pode até alcançar resultados no curto prazo, mas dificilmente se mantém competitivo, escalável e inovador no longo prazo. Por isso, é importante expandir o olhar para três dimensões fundamentais da sustentabilidade em produtos digitais: técnica, organizacional e humana

Sustentabilidade técnica: além da velocidade de entrega 

No mundo ágil, a velocidade de entrega costuma ser um dos KPIs mais acompanhados. Mas quando esse indicador é o único foco, surgem armadilhas. Decisões apressadas, atalhos no código e negligência arquitetural podem até acelerar releases no curto prazo, mas acumulam o que conhecemos como dívida técnica

Essa dívida funciona como um empréstimo: gera “juros” que, cedo ou tarde, comprometem a capacidade de evoluir. Produtos sofrem com instabilidade, dificuldade de manutenção, perda de performance e limitações para escalar. 

Uma estratégia de produto sustentável deve olhar para além do próximo sprint. Isso significa investir em boas práticas de engenharia, automação de testes, observabilidade e arquitetura bem pensada. Não é desacelerar, mas equilibrar a entrega rápida com a solidez necessária para que o produto não se torne um obstáculo para si mesmo. 

Sustentabilidade organizacional: prometer menos, entregar mais 

Muitas empresas ainda se apoiam em roadmaps inflexíveis que ignoram a capacidade real dos times. A consequência? Promessas que não se cumprem, confiança abalada, retrabalho constante e um clima organizacional corroído. 

Sustentabilidade organizacional significa planejar de forma realista. Não se trata de reduzir ambição, mas de criar ciclos de planejamento que considerem capacidade, prioridades e espaço para adaptação. 

Quando a organização estabelece expectativas factíveis e se compromete com entregas baseadas em valor real, os times trabalham com mais clareza, engajamento e foco. O resultado é um ciclo virtuoso: mais confiança interna, melhor relacionamento com stakeholders e maior credibilidade diante do mercado. 

Sustentabilidade humana: produtos feitos por equipes saudáveis 

Por trás de cada linha de código, existe uma pessoa. E, em muitas organizações, essas pessoas estão sobrecarregadas. A pressão por entregas contínuas, a ausência de tempo para aprendizado e a falta de equilíbrio entre vida pessoal e profissional cobram um preço alto: o desgaste de talentos. 

Pesquisas recentes evidenciam que fatores como bem-estar, equilíbrio e condições de aprendizado contínuo, dimensões centrais da chamada sustentabilidade humana, estão diretamente ligados à retenção de talentos na área de tecnologia Talentos não querem apenas bons salários; eles buscam ambientes em que possam evoluir, inovar e manter sua saúde mental (NETO et al., 2024; ROCHA et al., 2019).  

Equipes saudáveis tomam decisões melhores, colaboram com mais qualidade e inovam com maior consistência. A sustentabilidade humana, portanto, não é um “benefício adicional”, mas uma condição para que o produto tenha longevidade. 

Inovar sem se esgotar 

Incorporar sustentabilidade em todas essas dimensões não significa abrir mão da inovação. Muito pelo contrário: significa garantir que a inovação dure

Um produto que cresce sobre bases frágeis, sejam técnicas, organizacionais ou humanas, corre o risco de implodir no próprio peso. Por outro lado, quando se coloca a sustentabilidade como parte da estratégia de produto, abre-se espaço para um crescimento sólido, contínuo e verdadeiramente transformador. 

No fim das contas, sustentabilidade é também sobre longevidade, a capacidade de um produto não apenas nascer, mas se manter relevante, competitivo e saudável no tempo. 

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Vale a reflexão: 
👉 Seu produto está crescendo de forma sustentável? Ou apenas crescendo? 

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Referências  

LinkedIn Talent Solutions. LinkedIn Data Analysis Reveals the Latest Talent Turnover Trends. 2018. Disponível em: https://news.linkedin.com/2018/3/linkedin-data-analysis-reveals-the-latest-talent-turnover-trends.  

Neto, C. F. R.; Santos, J. M.; Silva, D. R.; et al. Please do not go: understanding turnover of software engineers from different perspectives. arXiv, 2024. Disponível em: https://arxiv.org/abs/2407.00273.   

Rocha, R. S.; França, A. C. C.; et al. Relating Voluntary Turnover with Job Characteristics, Satisfaction and Work Exhaustion – An Initial Study with Brazilian Developers. arXiv, 2019. Disponível em: https://arxiv.org/abs/1901.11499.  

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